domingo, 29 de junho de 2014

Substantivo

Substantivo: Conceito e classificação

Solange Lauro Marcondes, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
(Atualizado em 30/04/2014, às 16h40)
Substantivo é a classe gramatical, ou morfológica, de palavras que nomeiam os seres - reais ou imaginários, concretos ou abstratos. Além disso, inclui nomes de ações, estados, qualidades, sentimentos etc.
Qualquer classe gramatical antecedida por artigo, pronome demonstrativo, pronome indefinido ou pronome possessivo vira substantivo: o amar, um amanhã, nosso sentir, um não sei quê, o sim, o não, algum talvez, este falar, um abrir-se, o querer, aquele claro-escuro.

Classificação dos substantivos

Os substantivos são classificados assim:
  • Comuns: nomeiam grupos de seres da mesma espécie.
    Ex: jornal, país, cidade, animal, boca, beijo.
     
  • Próprios: nomeiam seres particulares de uma determinada espécie. São os nomes de pessoas, cidades, equipes de futebol, etc
    Ex: Fortaleza, Salvador, Ceará, Brasil, América do Norte
     
  • Abstratos: nomeiam estados, qualidades, sentimentos ou ações cuja existência depende de outros seres. explica-se: a beleza, por exemplo, precisa de algo concreto (um vaso, um rapaz, uma árvore) para se manifestar.
    Ex: tristeza, cansaço, prazer, alegria, beleza, verdade, ironia
     
  • Concretos: nomeiam seres cuja existência é própria, independente de outros.
    Ex: beija-flor, mulher, Deus, vento, alma
     
  • Primitivos: são os nomes que não derivam de outros.
    Ex: dia, noite, carroça, mar, água
     
  • Derivados: são os nomes formados a partir de outros.
    Ex: diarista (de dia), noitada (de noite), carroceiro (de carroça), maremoto (de maré), aguaceiro (de água)
     
  • Simples: são os nomes que apresentam apenas um elemento formador, um radical.
    Ex: caneta, pau, flor, couve, água, cheiro
     

domingo, 8 de junho de 2014

Prestem atenção nas leituras...

Nova leitura obrigatória, livro de Lídia Jorge aborda fama e ambição

"A Noite das Mulheres Cantoras" substitui obra do também português José Saramago e trata dos percalços existentes no rumo ao estrelato

06/06/2014 | 12h10
Nova leitura obrigatória, livro de Lídia Jorge aborda fama e ambição Adriana Franciosi/Agencia RBS
Lídia Jorge na Feira do Livro de Porto Alegre em 2011: com a trajetória das cantoras, autora traça história de uma épocaFoto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
No efêmero cenário da música pop, cinco mulheres querem sair do anonimato e conquistar os holofotes. As amigas, ansiosas pela vida de celebridade, estão dispostas a tudo para construir uma imagem digna de idolatria, e cantam com o intuito de conquistar a fama e a admiração dos ouvintes mais do que com a vontade de difundir uma mensagem através das canções. Para tanto, não medem esforços: vale deixar de lado a própria personalidade em troca da vontade de se tornarem conhecidas.
Pode parecer um cenário muito atual — e não deixa de ser —, mas estamos falando de Portugal nos anos 1980.
:: Confira a lista de leituras obrigatórias do vestibular 2015 da UFRGS
Essa contemporaneidade é um dos pontos-chave de A Noite das Mulheres Cantoras, obra da escritora portuguesa Lídia Jorge que entrou para a lista de leituras obrigatórias da UFRGS neste ano. No livro, a ânsia de virar celebridade permeia cada ação do grupo. Essas cantoras, lideradas pela ambiciosa Gisela Batista, buscam o sucesso a todo custo, pouco importando os meios necessários para atingir seu objetivo. Impossível não traçar paralelo com os dias de hoje.
A obra foi lançada em 2011: uma novata se comparada com a outrora obrigatória — e conterrânea — Os Lusíadas, do século 16, mas contemporânea de Lya Luft e Tabajara Ruas, também cobradas na prova do vestibular 2015. No mesmo ano, A Noite das Mulheres Cantoras recebeu uma edição "traduzida" para o português brasileiro. Portanto, muita atenção na hora de escolher qual versão você quer ler, porque ambas estão disponíveis nas livrarias e foram publicadas pela mesma editora.
As mulheres cantorasA protagonista, Gisela, estampa a vontade máxima do grupo, sedento pelo estrelato. A ela se juntam Madalena Micaia, Solange de Matos e as irmãs Nani e Maria Luísa Alcides: todas com vontade de alcançar a fama, mas nenhuma tão obstinada quanto a própria líder. Solange, uma compositora amadora, nutre em silêncio uma admiração pelas irmãs — mero esboço da idolatria que cresce quando entra em cena a líder (Gisela). É por causa dela que Solange passa a ter ambições maiores; com sua chegada, nasce a obsessão pelo estrelato.
Solange é quem narra, em um monólogo, a história da banda. A descrição, estruturada na forma de um retrocesso narrativo, acontece em 2009, mas retoma os acontecimentos de 21 anos atrás, quando ela era uma estudante que havia recém-ingressado na universidade. Enquanto compunha versos em segredo, recebeu um convite para fazer parte de um projeto musical. Ali surgiria a bandaApósCalipso, com a qual as mulheres cantoras tentariam obter o tão almejado status de celebridade.
— A obra também diz respeito aos valores do nosso tempo, e assim é uma leitura do presente. Se pensarmos no hoje, todos os nossos valores (éticos, ideológicos, estéticos) deixaram de ser absolutos. Questões do que é certo e errado, se é moral ou não passam a ser relativizadas. Essa é uma discussão bem pós-moderna que o livro trata muito bem — avalia Jane Tutikian, escritora e diretora do Instituto de Letras da UFRGS.
A História dentro da históriaA busca da banda ApósCalipso expõe ainda uma alegoria para a derrocada do império português — em um cenário de retomada da democracia, com o fim do Salazarismo (regime totalitário que dominou o Estado lusitano de 1933 a 1974). A narrativa acompanha também o fim da África portuguesa e a questão social dos "retornados", como ficaram conhecidos os portugueses que voltaram ao país natal após a independência das colônias africanas. As personagens, em maior ou menor grau, têm todas em comum a relação íntima com o continente que acabava de conquistar mais autonomia.
— Na superfície, o que as cinco (cantoras) têm em comum é a música. Esse é o traço explícito. Em nível profundo, porém, o que elas têm em comum é a África — pondera Jane.
Essa questão histórica, porém, não deve ser cobrada dos estudantes. A prova da UFRGS até costuma exigir que o candidato relacione acontecimentos do período em que foi publicada determinada obra, mas isso só costuma ser feito com títulos da literatura brasileira. O professor de Literatura do pré-vestibular Mottola Flávio Azevedo acredita que a pergunta sobre A Noite das Mulheres Cantoras deve envolver detalhes do enredo ou da relação entre as personagens.
— Deve-se conhecer o andamento da história, como o enredo é narrado, e essa estrutura de retrocesso, de reentrância. Podem também cair detalhes familiares, algo sobre o passado das personagens. Eles não vão trabalhar com informações sobre a autora ou característica dela em geral: vão entrar diretamente na obra, até por se tratar de uma autora contemporânea — aposta Azevedo.
A questão socialPara além da identificação com a música, o desejo do estrelato e as raízes africanas das mulheres cantoras, Lídia Jorge explora nesta obra outro ponto comum em sua bibliografia: a questão social. Os retornados — grupo a que pertence o coreógrafo João de Lucena — surgem como uma nova classe, que busca indenização do Estado após ter de deixar os territórios que dominavam e se veem obrigados a começar uma vida nova em um país que não é mais o mesmo que eles deixaram — "um país que eles não conhecem e que não os reconhece", nas palavras da escritora Jane Tutikian.
— No fundo, é a questão da fama construída, e como por ela você é obrigado a abrir mão dos valores individuais porque passa a ser engolido por esse empreendimento — descreve a diretora do Instituto de Letras da UFRGS.
 
A escritora portuguesa Lídia Jorge | Ilustração: Godinho
ANÁLISE, por Jane Tutikian
A Noite das Mulheres Cantoras
Lídia Jorge é uma das maiores — senão a maior — escritoras portuguesas da atualidade. Ela surge com a geração do pós-1974, que vem para repensar a história recente de Portugal, desmistificando a nação conquistadora e o orgulho do império. Nesse sentido, publica livros como O Dia dos Prodígios, onde analisa alegoricamente a Revolução dos Cravos, ou O Jardim sem Limites, que trata da primeira geração pós-salazarismo. Com relação à atuação portuguesa na África, A Costa dos Murmúrios é a melhor expressão da literatura lusa. Agora, a escritora vem com a edição brasileira de A Noite das Mulheres Cantoras, e o pano de fundo é a história dos retornados, meio milhão de portugueses forçados a regressar a Portugal depois da independência das colônias, deixando na África a construção de uma vida inteira, sem qualquer indenização do Estado. E, mais do que isso, voltando para uma terra que já não mais conheciam, sentindo-se estrangeiros em sua pátria. No início do livro, Lídia Jorge esclarece que ao contar-se a história de um grupo conta-se a história de um povo.
Na superfície, a autora conta a história de Gisela Batista, que comanda um grupo de quatro jovens que querem alcançar a fama com um conjunto de mulheres cantoras. As irmãs Nani e Maria Luísa Alcides, Madalena Micaia e Solange de Matos subjugam-se à personalidade autoritária de Gisela Batista, porque ela é que tem o dinheiro e, porque o tem, estabelece as metas de vida das jovens. Tudo o que importa é que as cinco cantoras do ApósCalipso gravem um disco e façam sucesso.
Lídia Jorge desenvolve a narrativa de forma magistral. É Solange de Matos que, vinte e um anos depois, em 2009, a partir de um encontro das quatro cantoras (as irmãs Alcides, Solange e Gisela) e ainda do coreógrafo (João de Lucena), num show de televisão, que reconstitui, num monólogo, a história do grupo.
É nos dramas individuais que o funcionamento sócio-cultural português dos anos 1980 se revela. Solange, as irmãs Alcides, e a própria Gisela pertencem a famílias de retornados, marcadas pelo sentimento de uma derrota promovida pela própria pátria. Micaia é a africana, a santomense, a selvagem, que morre na casa de ensaio (a Casa Paralelo), cujo corpo tem destino ignorado e por quem ninguém pergunta, revificando as relações colonos x colonizadores. Cabe ao estudante de sociologia Murilo a análise das relações internacionais, as condolências apresentadas à África, o incentivo de resistência à América Latina e a tudo o que vem do Norte e a própria projeção do domínio do capitalismo num mundo sem fronteiras.
Verdade é que ao contar a história de um grupo, Lídia Jorge conta sim a história de um povo e, ao contar a história de um povo, conta a história de uma época em que os valores éticos, estéticos e ideológicos que a regem estão já preparando o nosso tempo.
Jane Tutikian
Escritora, diretora do Instituto de Letras da UFRGS