domingo, 13 de abril de 2014

Fique ligado...

UFRGS inclui disco na lista de leituras obrigatórias para o vestibular 2015

Tropicália ou Panis et Circensis, de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e outros artistas, é o primeiro disco a figurar na relação desde 1999

UFRGS inclui disco na lista de leituras obrigatórias para o vestibular 2015 Reprodução/Reprodução
Foto: Reprodução / Reprodução
A lista de leituras obrigatórias do vestibular 2015 da Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS) tem uma grande novidade: o disco Tropicália ou Panis et Circensis, de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e outros artistas. Pela primeira vez, desde que a UFRGS implantou a lista em 1999, um álbum figura na relação.
As outras três novidades são A Noite das Mulheres Cantoras, da portuguesa Lídia Jorge — que substitui História do Cerco de Lisboa, do Nobel de Literatura José Saramago —,O Amor de Pedro por João, de Tabajara Ruas e Dançar Tango em Porto Alegre, de Sergio Faraco — que entraram nos lugares de O Centauro no Jardim, de Moacyr Scliar, e Contos Gauchescos, João Simões Lopes Neto.
Conheça as novidades
Tropicália ou Panis et Circensis
Lançado em 1968, o disco reúne artistas como Tom Zé, Nara Leão, Torquato Neto e Gal Costa, entre outros, que, capitaneados por Caetano Veloso e Gilberto Gil, misturam rock, marchinha e orquestrações. É o primeiro disco a ingressar na lista de leituras obrigatórias. O professor Luís Augusto Fischer lembra que o programa da prova de literatura já previa, desde muitos anos, a obra de cancionistas essenciais, em particular Caetano Veloso e Chico Buarque:
— Pensamos em oferecer um disco que tem uma concepção, uma unidade, algo que alguma vez se chamou de "álbum conceitual". É um clássico indiscutível, um disco coletivo, que representa um momento-chave da história da cultura brasileira nos tempos mais ou menos recentes. Nosso vestibular há muitos anos traz conteúdos relativos a esse gênero artístico de tanta relevância que é a canção, gênero claramente letrado, portanto, ligado ao mundo da escrita, ainda que tenha em sua essência aspectos musicais. Por certo, a abordagem no vestibular terá a ver fundamentalmente com as letras das canções.
Te liga nisso
No site oficial de Gilberto Gil, você pode ouvir as músicas do álbum em streaming. Acessezhora.co/tropicaliagil
A Noite das Mulheres Cantoras
A professora de literatura da UFRGS Jane Tutikian classifica Lídia Jorge como a grande escritora portuguesa. Em sua obra, desmistifica a imagem de Portugal como grande império, tratando da presença lusitana na África. Nos livros mais recentes — caso de A Noite das Mulheres Cantoras, de 2011 — transitou para a análise social da sociedade de seu país:
— Hoje, a literatura de ponta na Europa é a portuguesa. A obra da Lídia tem uma inquietação estética. Reconhecemos imediatamente o texto dela. Mas não creio que os vestibulandos terão dificuldades de leitura como no livro do Saramago.
O Amor de Pedro por João
O livro de Tabajara Ruas tem a ditadura como ambiente, tratando da solidão de militantes políticos que buscam abrigo no Chile, governado por Allende. Com a ascensão de Pinochet ao poder, eles têm de se exilar na Europa. O próprio autor foi um exilado no mesmo país sul-americano. Segundo o professor de literatura da UFRGS Luís Augusto Fischer, a escolha está relacionada aos 50 anos do golpe, mas esse não é o principal motivo:
— Cada livro entra na lista conforme critérios estabelecidos há tempos. Procuramos colocar livros, e agora também um disco, de várias épocas e de vários gêneros, tentando combinar o critério da importância com o da legibilidade pelo público envolvido, os vestibulandos. O livro do Tabajara Ruas entrou por ser de leitura muito fluente, de autor gaúcho contemporâneo, e suplementarmente por abordar o mundo da Ditadura.
Dançar Tango em Porto Alegre
Obra que reúne 18 contos, tem histórias ambientadas na fronteira. O professor da UFRGS Luís Augusto Fischer destaca que alguns dos contos abordam estágios da formação dos protagonistas, com meninos ou jovens passando para estágios mais maduros de vida:
— É um dos grandes contistas de sua geração, no Brasil, com obra de enorme relevância no Rio Grande do Sul. É um contista de aspecto clássico, sem grandes invenções formais. Um escritor cuja força vem em parte dos enredos, não raro trágicos e muitas vezes ambientados no mundo da fronteira do Brasil com a Argentina. Tem um perfeito manejo da linguagem, que incorpora algum vocabulário regional gaúcho apenas por necessidade específica de cada situação.
Conheça as obras que foram mantidas para o vestibular do ano que vem
Na lista de leituras obrigatórias para o vestibular da UFRGS de 2015, foram mantidas as que estrearam em 2014 e os que apareceram em 2013. Saiba mais sobre as obras:
Terras do Sem Fim, de Jorge Amado (1942)
Retrato da região de Ilhéus, no sul da Bahia, a trama se desenrola em um cenário de grandes latifúndios, no anos dourados do cacau e dos coronéis, apresentando a violenta disputa entre dois grupos por terras: a família Badaró contra o Coronel Horácio da Silveira.
> Como caiu em 2014
A questão 38 pedia que os alunos completassem lacunas de um parágrafo sobre época da história, local e como foi a disputa entre as famílias.
Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues (1959)
O bicheiro Boca de Ouro é assassinado logo no início da peça. Caveirinha, repórter de um jornal sensacionalista, conversa com uma antiga amante do bicheiro, que apresenta versões diferentes sobre quem era Boca de Ouro.
> Como caiu em 2014
O texto foi tema de duas questões. Primeiro, havia três afirmações sobre trama, personagens e linguagem da peça, e era preciso apontar as corretas. A segunda questão abordou a função da amante na história.
As Parceiras, de Lya Luft (1980)
No romance de estreia de Lya, a personagem-narradora, Anelise, busca compreender sua vida a partir de de suas lembranças e origens. Refugiada em um chalé, ela reconta seus dramas familiares e pessoais.
> Como caiu em 2014
Em duas questões. Na primeira, era necessário dizer quem é a narradora do romance. Na segunda, o estudante tinha de relacionar as partes da casa com representações simbólicas, como família, refúgio e aconchego.
Contos de Murilo Rubião
Textos da escola do realismo fantástico, com narrativas que trazem acontecimentos absurdos do ponto de vista lógico ou científico — como animais falantes e um prédio de mais de 800 andares cuja construção nunca termina. A UFRGS selecionou 12 contos do autor.
> Como caiu em 2014
Foram duas questões. Na primeira, era necessário conhecer as tramas de seis contos para indicar as explicações corretas. A segunda era um verdadeiro ou falso sobre caracterísiticas gerais e sobre outros dois contos.
O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)
O traço fundamental da obra de Pessoa são os heterônimos, autores fictícios, com nome, biografia e estilo próprio de poesia e/ou visão de mundo. Alberto Caeiro é o mestre dos outros heterônimos de Pessoa. Os temas fundamentais de O Guardador de Rebanhostratam da natureza, que representa a única realidade aceitável.
> Como caiu em 2014
A questão trouxe brevíssimas interpretações sobre três poemas do livro e era necessário apontar quais estavam corretas.
Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida (1854)
O texto é rompe com os padrões sentimentais do romantismo, embora tenho sido escrito nos primórdios desse tipo de narrativa no país. Com realismo quase trivial, o autor troca as paixões desmedidas pelo humor e pelo registro do cotidiano das classes média e baixa (os "pobres livres").
> Como caiu em 2014
A questão testou o conhecimento dos alunos sobre o protagonista, o narrador e outros três personagens de classes populares. Era preciso identificar as afirmações corretas.
Esaú e Jacó, de Machado de Assis (1904)
Romance realista, o livro traz dois protagonistas antagônicos: um conservador, que representa a monarquia, o outro liberal, que representa a república. Apesar de o vocabulário não ser uma dificuldade, a narrativa pode ser desafiadora, com um narrador alternando entre a primeira e a terceira pessoa.
> Como caiu em 2014
Mais uma vez, três afirmações para analisar quais estavam corretas. Os teras eram os dois protagonistas, a narrativa e a relação entre dois personagens da história.
Poemas de Gregório de Matos Guerra
Poeta barroco, faz versos sobre o cenário nordestino do ciclo da cana-de-açúcar, dos engenhos e da escravidão. Conhecido como Boca do Inferno, tem uma obra dividida em três eixos de poesia: religiosa, lírica e satírica.
> Como caiu em 2014
O poeta foi tema de duas questões em 2014. Primeiro, o poema A Jesus Cristo Nosso Senhor foi comparado ao Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda, do Padre Antônio Vieira. As três afirmações falavam das ligações dos textos com aspectos religiosos. Na segunda, era preciso escolher a alternativa correta entre cinco interpretações dos textos.
Te liga nisso: A seleção da UFRGS tem 25 poemas, disponibilizados para download gratuito, em razão das possíveis diferenças de edição. Confira aqui.

Comentar esta matériaCOMENTÁRIOS (0)

Esta matéria ainda não possui comentários

domingo, 6 de abril de 2014

Visão Preocupante

Editorial| Visão preocupante

29 de março de 20142
O Brasil só será um país justo quando seus cidadãos conseguirem encarar um ao outro com mais respeito, acima de quaisquer diferenças.
edi29
São chocantes as conclusões de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelando que os brasileiros ainda mantêm uma visão retrógrada e machista em relação ao papel da mulher na sociedade. Nada menos do que 65% das 3.810 pessoas de ambos os sexos entrevistadas em 212 municípios disseram concordar com a afirmação de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. A conclusão, somada a outras igualmente inconcebíveis _ como a de que 58,5% justificam estupros pelo comportamento das mulheres _, demonstra o quanto o país ainda precisa evoluir na área social, para assegurar mais igualdade de gênero, com efetivo respeito mútuo. Os avanços dependem de campanhas institucionais eficientes e de caráter permanente, além de uma aposta firme na área educacional.
Um dos aspectos promissores do levantamento é o de revelar que, embora a visão dos brasileiros seja marcada, de maneira geral, pela ambiguidade, é nas faixas de menor nível educacional que a intolerância costuma ser maior. Ainda assim, e embora essa realidade seja reproduzida de forma massificada e até mesmo celebrada em manifestações culturais como músicas e danças, são perturbadoras as conclusões do estudo, agora respaldadas em números. O que fica evidente é uma cultura marcada pela superioridade masculina, reforçada pela tendência à desqualificação do sexo feminino. Enquanto se mantiver preso a preconceitos e a concepções socioculturais deturpadas, o país não conseguirá resolver algumas de suas mazelas mais perturbadoras, a começar pela violência.
Conscientes do problema escancarado pelo levantamento, a sociedade e o poder público já vem promovendo avanços de ordem legal que hoje estão na vanguarda da assistência a pessoas mais vulneráveis, como crianças, adolescentes, idosos e mulheres. Ainda assim, essa rede de proteção se choca com concepções pessoais largamente majoritárias, apesar de equivocadas. Uma delas é a de que, embora a violência física contra a mulher seja rechaçada e punida, uma imensa maioria ainda acredita que “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. E mais: que “roupa suja se lava em casa”. Esse olhar deformado para o problema ajuda a explicar tantos casos de violência doméstica e sexual, entre os quais o estupro, em grande parte cometidos, tolerados e acobertados no âmbito familiar.
Diante dos resultados, a presidente Dilma Rousseff advertiu ontem que “governo e sociedade devem trabalhar juntos para atacar a violência, dentro e fora dos lares”. O Brasil só será um país mais justo quando seus cidadãos conseguirem encarar um ao outro com mais respeito, acima de quaisquer diferenças, o que depende sobretudo de um consistente avanço educacional e cultural.

ZH - 29/03/14